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Sul do Brasil busca integração ferroviária e realidade em São Francisco do Sul, Araquari e Joinville expõem urgência: trens ainda cruzam a cidade

O fortalecimento do sistema ferroviário brasileiro voltou à pauta estratégica dos estados do Sul nesta semana. Em uma reunião realizada nesta terça-feira (8), o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, recebeu o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, além de representantes dos governos do Paraná e do Mato Grosso do Sul, para discutir a criação de uma aliança regional voltada à retomada e expansão da malha ferroviária nacional.

O encontro definiu a criação de uma comissão técnica interestadual para atuar de forma conjunta na defesa dos interesses da região junto ao governo federal, com foco na renovação das concessões ferroviárias e na consolidação da Ferrosul, eixo estruturante de integração logística entre os estados.

“Acreditamos que só com união e organização técnica vamos conseguir fazer esse assunto andar. As ferrovias são vitais para a nossa economia e, por isso, tomamos essa iniciativa. É um trabalho que precisa sair do papel com a força dos estados”, afirmou o governador catarinense Jorginho Mello.

Por determinação do governador, Santa Catarina será representada pelos secretários de Estado de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Beto Martins, Ivan Amaral (adjunto) e Ricardo Grando (Infraestrutura e Mobilidade). O grupo vai trabalhar de forma integrada com os demais estados para traçar um mapa ferroviário unificado, que atenda às necessidades de escoamento da produção e transporte de passageiros no Sul do país.

Escoamento comprometido em SC e o impacto em São Francisco do Sul, Araquari e Joinville

A articulação vem em um momento crucial para Santa Catarina, onde a ausência de uma malha ferroviária moderna tem dificultado o crescimento econômico sustentável. Um dos exemplos mais evidentes está em São Francisco do Sul, que abriga o maior porto graneleiro do estado e depende, em grande parte, do transporte ferroviário para o escoamento da produção agrícola. No entanto, os trilhos ainda cortam o perímetro urbano da cidade, gerando impactos diretos no trânsito local, no turismo e na qualidade de vida dos moradores. As cidades vizinhas também são impactadas com o trânsito dos trens nos trilhos dentro da via urbana, principalmente nos trevos como em Araquari e em uma das principais avenidas Getúlio Vargas, em Joinville. 

Durante as temporadas de maior movimento, a passagem de composições ferroviárias longas provoca engarrafamentos frequentes, ruído excessivo e riscos à segurança viária, já que a estrutura atual foi projetada há décadas e não comporta mais a demanda urbana e logística atual. Apesar de existirem obras iniciadas do contorno ferroviário com o objetivo de desviar os trens da área central da cidade, essas intervenções seguem paralisadas, sem avanço concreto. A situação gera frustração entre os moradores e comerciantes da região, que aguardam há anos por uma solução definitiva. A população e as lideranças locais cobram alternativas como a retomada imediata do contorno ferroviário, além de novos investimentos que modernizem a via permanente e ampliem a malha, com uma operação mais eficiente e menos invasiva. 

Avanço federal e expectativa catarinense

A movimentação estadual ocorre em sintonia com o Plano Nacional de Ferrovias, recentemente anunciado pelo governo federal. A proposta prevê investimentos superiores a R$ 100 bilhões para expansão da malha ferroviária em diversas regiões do país, com projetos como a FICO, FIOL e a Ferrogrão. 

Embora Santa Catarina ainda não esteja entre os primeiros trechos beneficiados a articulação com os demais estados pode garantir protagonismo na inclusão de ramais estratégicos. 
Segundo governo estadual, "no primeiro trimestre de 2025, os terminais do estado movimentaram 718,4 mil TEUs — quase 20 % de todos os contêineres que circularam pelo país no período, percentual bem superior à média brasileira, o que reforça a urgência de corredores terrestres mais eficientes ligando o interior aos portos".

Exemplos de ramais estratégicos são os 319 quilômetros entre as cidades de Chapecó e Correia Pinto, cujo contrato de projeto se estende até final de 2025, e a chamada Ferrovia dos Portos, de 62 km entre Araquari e Navegantes, com projeto programado para 2025. A soma dos investimentos previstos ultrapassa R$ 12 bilhões (cerca de US$ 2,3 bilhões), dos quais US$ 2 bilhões referem-se apenas ao trecho Chapecó–Correia Pinto.  além do ramal Itapoá–Joinville. 

De acordo com a edição de 2025 da Agenda para a Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), o custo estimado para a construção de um ramal ferroviário entre Itapoá e Joinville pode chegar a R$ 2 bilhões. O novo ramal ferroviário terá uma extensão de 110 km e poderá ser um divisor de águas para o desenvolvimento do setor logístico de Santa Catarina.

A proposta não apenas viabiliza a interligação com a malha ferroviária nacional, mas também pode ser expandida para alcançar o complexo portuário de Itajaí e Navegantes, caso seja construída uma extensão de 62 km entre Araquari e os portos da região, com potencial de aliviar a pressão logística em São Francisco do Sul como os projetos em estágio mais inicial, a chamada Ferrovia Litorânea, que ligaria São Francisco do Sul a Imbituba, com cerca de 250 km de extensão - e a Via Mar, a nova rodovia estadual em fase de projeto, que tem 145 km, entre Joinville e o Contorno Viário em Biguaçu. A proposta foi apresentada no governo de Carlos Moisés (Republicanos), quando foi realizado o EVTEA (Estudo de Viabilidade Técnica Ambiental).

A proposta aparece como 39ª entre 89 ferrovias "em concepção", ou seja, em fase preliminar de estudos, e ainda sem perspectiva concreta de execução. Seu custo estimado é de US$ 300 milhões, e o governo catarinense busca fontes de financiamento para viabilizá-la.

Apesar de mais adiantadas em termos técnicos, nenhuma dessas propostas tem previsão de início das obras, o que reforça a importância da articulação entre os estados para pressionar por avanços.

Outro ponto em destaque é a intenção do governo federal de reformular o marco regulatório das ferrovias, promovendo segurança jurídica e novas concessões com maior participação estadual. Santa Catarina já lançou uma consulta pública para a criação de sua própria Lei de Ferrovias, com previsão de aportes estaduais e incentivos para parcerias público-privadas (PPPs). A proposta será fundamental para que o Estado possa ter autonomia para autorizar a concessão de novos trechos ferroviários.

Mobilização estratégica

A criação da comissão interestadual e a formação de um plano técnico conjunto simbolizam um novo capítulo na política ferroviária da região Sul. Com a união de esforços e uma agenda unificada, os quatro estados buscam mais que infraestrutura: almejam competitividade econômica, sustentabilidade logística e respeito às realidades urbanas, como a de São Francisco do Sul.

A expectativa agora é que o grupo avance na formulação de projetos viáveis, consiga inserir os trechos prioritários nos planos federais e garanta que as decisões sobre a malha ferroviária sejam tomadas com base nas demandas concretas dos territórios, e não apenas em modelos generalistas.

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