"NÃO!", comédia com Adriana Birolli, chega à Joinville com entrada solidária
Semana da Consciência Negra destaca protagonismo da comunidade afrodescendente na Câmara de São Francisco do Sul
A Semana da Consciência Negra começou com força simbólica e política na noite de ontem (17), quando movimentos afrodescendentes, escritores, educadores e vereadores ocuparam o plenário da Câmara de São Francisco do Sul. A ação, idealizada pelo vereador Vagner Porcincula, marcou uma abertura que reforça o compromisso com políticas públicas voltadas à população negra do município.
A celebração antecipada do Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, deu visibilidade a histórias, vozes e legados que moldam a identidade francisquense. Um dos pontos centrais da noite foi a valorização do livro Presença e Memória Negra em São Francisco do Sul (2013), escrito pelas pesquisadoras Andréa de Oliveira e Soraia das Neves Pinheiro. A obra, considerada um marco na preservação da memória afro-brasileira local, registra contribuições culturais, sociais e políticas de personalidades negras que por décadas permaneceram invisibilizadas.
Durante a cerimônia, a escritora e educadora Soraia Pinheiro destacou o livro como um “gesto de coragem, reparação e amor ao território”, lembrando que homens e mulheres negros sustentam pilares fundamentais da cidade. Para ela, a história preta francisquense não é apenas um capítulo, mas parte estrutural da identidade do município. “Que esta casa reconheça, apoie, incentive e reafirme o compromisso com a equidade social”, afirmou.
Em um dos momentos mais emocionantes da noite, o escritor Iratan Curvello iniciou sua fala no plenário com uma CANTILENA de sua autoria "Vou lembrando no meu canto. O grito forte de Zumbi. Ecoando o seu lamento. Que é pra todo mundo ouvir". E em seguida declamou o poema "Não sou o fim do fim" de autoria do escritor negro ALZEMIRO Lídio Vieira e ao final fez a leitura do poema "Real Negritude" de sua autoria. O gesto, admirado pelo público, reafirmou o poder da arte negra como resistência, identidade e afirmação.
A presidenta do Conselho Estadual da População Afrodescendente (CEPA), Clair Curvello, ressaltou a importância de dar visibilidade às histórias negras e fortalecer ações de igualdade racial. Já a líder comunitária Lauriane Camilo destacou o papel da cultura como preservação da memória coletiva e da força comunitária.
Participaram ainda representantes do Movimento Afrodescendente Francisquense (MADEF), CEPA, Associação do Buraco Quente, Educação Escolar Quilombola e Academia de Letras do Brasil – Seccional São Francisco do Sul. Entre as presenças marcantes estavam Dona Nete, liderança da comunidade do Buraco Quente; a diretora Jurimar Suzarte; o campeão mundial de capoeira Fabrício Silva Carvalho; e dos vereadores Leonel Íber, Rodrigo Graf e os já citados. A abertura da Semana da Consciência Negra na Câmara reafirma um caminho de reconhecimento, representatividade e luta por equidade racial. Um espaço que, por muito tempo negado, agora se torna palco para vozes que seguem construindo São Francisco do Sul.
Poema Real Negritude de Iratan Curvello
I
Da mãe África que vem
A minha ancestralidade,
Vou contar real história
E lembrar a humanidade
De onde vem a nossa luta
Em busca de liberdade.
II
Foi uma bula papal
Que autorizou os países
De Portugal e Espanha
Com decisões infelizes,
Invadir alma africana
Ferindo as suas raízes.
III
Nossa colonização
Maltratou a humanidade
Deixando marcas profundas
Feridas com crueldade,
Com o ferro amordaçaram
Sem nenhuma piedade.
IV
Enclausuraram as mentes
Do povo negro inocente,
Restringiram nossa fé
E o falar da minha gente,
Separaram mãe e filho
E colocaram corrente.
V
No alvorecer africano
Foi tremenda correria
Amarrados num tumbeiro
Esperando a travessia
Retirados do seu chão,
Tudo agora era agonia.
VI
A embarcação balançava
No porão já se sentia
A febre, a fome, a morte
Que ali dentro já se via,
Morrer era a liberdade
Que o meu povo já previa.
VII
O tumbeiro então parou
Chegou em Porto Seguro,
Era o Brasil seu destino
Nova colônia, um futuro
Trazendo como legado
Um árduo trabalho duro.
VIII
O labor de sol a sol
Enriqueceu o senhor,
Cana de açucar, café
Plantou com todo vigor,
Porém o que ele colheu
Foi desprezo e desamor.
IX
Enquanto o tempo passava
A vida vinha mudando
Em busca da liberdade
Continuaram lutando,
Para um ‘fazer’ bem real
Negritude ia acordando.
X
Zumbi levanta a bandeira
Deste sonho adormecido
Tem revolta do Malês
O povo está decidido,
Deixar atrás a senzala
Se fez ordem, não pedido!
XI
O sonho da negritude
Ganha uma voz poderosa
Luiz Gama, o jornalista,
Em uma escrita engenhosa
Falava de liberdade
Na poesia e na prosa.
XII
No Ceará se decreta:
Está livre o escravizado!
No vinte e quatro de março
E sobre o grito inflamado
As senzalas vão se abrindo,
Para um futuro esperado.
XIII
A tal lei áurea assinada
Marca o holocausto de vez
Pois nunca nos deram nada
Foi tamanha insensatez,
Liberdade no domingo,
Na segunda o que se fez?
XIV
Pessoas vistas nas ruas
Sem casa, emprego ou vintém,
Sem documentos e escola
Sem amparo de ninguém,
O negro foi esquecido
E de tudo ficou sem.
XV
Nosso povo tem história
Filhos de Impérios… de reis
Sabemos reconstruir
Refazendo algumas leis
hoje somos maioria,
Negritude se refez.
XVI
Nossa saga continua
Por justiça social
Viver com dignidade,
Sem caminho desigual,
Nossa bandeira abomina
“PRECONCEITO RACIAL”.
Autor: Iratan Curvello
Príncipe Poeta










Deixe seu comentário