Gaslighting: quando a manipulação emocional silencia mulheres — o caso do vereador de São Francisco do Sul

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O episódio ocorrido em São Francisco do Sul neste fim de semana expõe mais uma vez como a violência contra a mulher pode se manifestar não apenas por meio da força física, mas também pela manipulação psicológica. O vereador Sidnei Eunézio de Mira, conhecido como Mira da Estiva (MDB), foi acusado pela esposa, Sabrina Ribeiro, de agressão após ela tê-lo flagrado na casa de sua assessora, apontada como amante.

De acordo com Sabrina, ao encontrar o parlamentar em situação de intimidade com a amiga, iniciou-se uma discussão que teria resultado em agressões. O vereador nega. Em sua versão, afirma que estava apenas buscando ferramentas, que a esposa chegou “descontrolada”, quebrou o para-brisa de um veículo e que ele apenas tentou contê-la.

Essa divergência entre relatos não é um detalhe menor. Ela revela um mecanismo conhecido como gaslighting, termo cunhado pela psicóloga norte-americana Robin Stern, que descreve a manipulação emocional em que o agressor distorce os fatos, invalida a experiência da vítima e a faz questionar sua própria percepção da realidade. Em casos de traição ou abuso, é comum que mulheres que confrontam os parceiros sejam rotuladas como “loucas”, “histéricas” ou “desequilibradas”, estratégia que inverte papéis: o agressor assume a posição de vítima, e a vítima, de culpada.

A violência que não deixa marcas visíveis

O gaslighting é uma forma de violência psicológica muitas vezes invisível, mas devastadora. Ele corrói a autoestima, cria insegurança e pode aprisionar a mulher em um ciclo de dúvidas sobre si mesma. No Brasil, onde uma mulher é vítima de violência doméstica a cada dois minutos, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse tipo de manipulação emocional frequentemente antecede ou acompanha agressões físicas.

A ausência de uma Delegacia da Mulher em São Francisco do Sul

Um ponto agravante no caso é que São Francisco do Sul, com mais de 50 mil habitantes, ainda não possui uma Delegacia da Mulher. Por essa razão, os envolvidos precisaram ser encaminhados para Joinville, município vizinho. A inexistência dessa estrutura compromete a agilidade no atendimento e a proteção às vítimas, que muitas vezes desistem de denunciar diante das dificuldades de deslocamento.

Especialistas defendem que cidades desse porte precisam ter uma unidade especializada, e cabe aos governos estadual e municipal trabalharem para viabilizar a instalação dessas delegacias, garantindo atendimento humanizado, especializado e acessível.

A importância de romper o silêncio

O caso em São Francisco do Sul, independentemente de como será apurado judicialmente, serve de alerta. Mulheres que enfrentam situações semelhantes precisam saber que não estão sozinhas. A orientação é clara: busque ajuda imediatamente. A denúncia pode ser feita pelo telefone 180 (Central de Atendimento à Mulher), pelo 190 (Polícia Militar) ou diretamente nas Delegacias da Mulher. Romper o silêncio é um passo fundamental para quebrar o ciclo de violência — seja ela física ou psicológica.


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