COP21

Acordo mundial para salvar a Terra

  • divulgação -

Políticos assumem, pela primeira vez, compromisso para adotar medidas que conduzam a uma economia de baixo carbono

Foi um momento histórico. Ontem, às 19.27 em Paris (18.27 em Lisboa), os responsáveis dos 195 países reunidos na cimeira do clima concordaram reduzir as emissões de gases com efeitos estufa. Após duas semanas de negociações e do adiamento do encerramento, marcado para sexta-feira, os políticos chegaram a consenso, assumindo um compromisso ambicioso: limitar a subida da temperatura a 1,5 graus, em relação à era pré-industrial.

O Acordo de Paris envolve, pela primeira vez, todos os países do mundo na luta contra as alterações climáticas e o aquecimento global. No compromisso, juridicamente vinculativo, comprometem-se a reduzir significativamente o uso de combustíveis fósseis para apostar nas energias renováveis. Relativamente às verbas, uma das questões mais polémicas, o documento prevê o financiamento de cem mil milhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento após 2020. Cada país deverá, daqui para a frente, estabelecer os seus objetivos com vista a atingir as metas definidas. E reunirão para balanço em 2025.

A posição portuguesa

"É um dia histórico para o ambiente. Mas só passa a ser histórico quando se concretizarem os objetivos. Estes são desafios enormes, quase utópicos, mas que devem ser encarados como absolutamente necessários", disse ao DN Francisco Ferreira, que integra a delegação portuguesa na Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP 21). Chegar à segunda metade do século com um balanço zero de emissões de gases "é uma tarefa complicada, mas desejável e exequível".

A revisão do acordo e o aumento de ambição deverá acontecer a partir de 2020, o que Francisco Ferreira considera errado, "face à emergência climática. Há um momento de avaliação em 2018, mas que não redefinirá as contribuições nacionais de cada país". Nas possíveis revisões dos compromissos nacionais, prevê que a exigência seja cada vez maior. Ao contrário do Protocolo de Quioto, realça o também professor do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade, da Universidade Nova de Lisboa, "este é um acordo viável e que compromete todos os países com metas e não só os países desenvolvidos".

Considerado histórico, o compromisso foi aprovado em ambiente de festa. As metas são ambiciosas, mas, a serem cumpridas, permitirão reduzir significativamente o impacto do aquecimento global. Para a Greenpeace, este acordo reflete a mensagem de que "este é o fim da era dos combustíveis fósseis".

Kerry chorou e China sorriu

Na intervenção que se seguiu à aprovação do documento, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry - que se mostrou especialmente emocionado com o momento -, garantiu que o acordo de Paris sobre o clima constitui "uma vitória para o planeta e as gerações futuras". Ninguém pensa tratar-se de um acordo perfeito, afirmou, "e assim é exatamente como devia ser", dado o número de nações envolvidas. Ainda antes da adoção do acordo, o grupo G77, com 134 países em desenvolvimento e emergentes, incluindo a China, e os países menos avançados, como Angola, mostraram-se satisfeitos com o documento. "Acabámos de escolher o caminho certo para o bem das gerações futuras", disse o enviado especial para as Alterações Climáticas da China, Xie Zhenhua, acrescentando que o acordo "pode ser melhorado, mas permite-nos avançar para responder ao desafio das alterações climáticas". Também Anna-Kaisa Itkonen, porta-voz da Comissão Europeia, disse que a aprovação da proposta constituía "uma vitória enorme para a UE", um "momento histórico". "Cobre todas os nossos pedidos principais - é ambicioso e equilibrado." Logo após a assinatura, Christine Lagarde, diretora-geral do FMI, divulgou uma declaração, convidando os países envolvidos na COP 21 a criar medidas para que as metas sejam atingidas. "O Acordo de Paris é um passo crítico em frente para enfrentar o desafio das mudanças climáticas globais. Os governos devem agora transformar palavras em ações, com políticas que façam progressos efetivos sobre as promessas de redução."

Acordo é o início

O especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos considerou "muito importante" o acordo alcançado, mas alerta que o compromisso "não é o fim, mas o início do processo" para evitar o aquecimento global. Para o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o compromisso não irá evitar que se ultrapasse dois graus centígrados de aumento da temperatura média global da atmosfera à superfície. "Há muito a fazer. Espera-se que seja um sinal claro para as empresas, sobretudo para o setor da energia começar efetivamente a apostar na transição energética."

Na opinião de Francisco Ferreira, Portugal "tem um quadro estratégico para o clima, mas tem de começar a concretizar medidas indispensáveis. Uma delas é deixar de financiar as centrais a carvão que temos". Por outro lado, o especialista ambiental diz que o país deve apostar em transportes públicos, nos veículos elétricos, nas energias renováveis e sensibilizar as pessoas para um consumo mais sustentável.

autor: Diário de Notícias/PT

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