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A violência contra mulheres começa no machismo e termina no respeito
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Foto Internet -
No 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, é preciso dizer em voz alta: esse problema tem rosto, e na imensa maioria dos casos ele é masculino. Não é “um conflito de casal”, não é “briga de família”. É um modelo de masculinidade que ensina meninos a controlar, silenciar e punir mulheres como se elas fossem sua propriedade.
Essa raiva difusa contra mulheres aparece no ciúme doentio, na surpresa diante de um “não”, na dificuldade de aceitar o fim de um relacionamento, na ideia de que a parceira deve “obedecer”. Quando essa cultura de posse encontra armas, álcool, impunidade e silêncio, o resultado é o que vemos todos os dias nas estatísticas e nas manchetes.
Os números mostram a dimensão desse problema. Em 2024, o Brasil registrou 1.450 feminicídios, mulheres assassinadas por serem mulheres, e mais de 2,4 mil outras mortes violentas de mulheres, somando mais de 3,9 mil vidas interrompidas em um único ano.
Só em 2023, foram 258.941 agressões decorrentes de violência doméstica registradas e 1.467 feminicídios, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Pesquisas apontam ainda que mais da metade da população brasileira viu ou ouviu algum episódio de violência contra meninas e mulheres no último ano, o que mostra o quanto essa violência está espalhada e, muitas vezes, naturalizada.
Em Santa Catarina, o cenário também exige atenção. O Observatório da Violência contra a Mulher registrou mais de 72 mil casos de violência contra mulheres em 2023, um aumento de 5% em relação a 2022.
Em 2024, o estado contabilizou 51 feminicídios, queda de 12% em relação a 2023 – um avanço importante, mas ainda assim uma taxa de 1,3 caso para cada 100 mil habitantes.
Até outubro de 2025, 38 mulheres já tinham sido mortas por razão de gênero em Santa Catarina, praticamente uma mulher por semana.Observatório da Violência+1
Ao mesmo tempo, aumentam as ligações para o Ligue 180: em 2024 foram 17.185 atendimentos de Santa Catarina, com crescimento também nas denúncias formais – sinal de que mais mulheres estão rompendo o silêncio.Serviços e Informações do Brasil
Diante desse quadro, não basta pedir que as mulheres denunciem. Os homens precisam se reconhecer como parte do problema – e, principalmente, como parte da solução. Isso começa na honestidade de olhar para si: onde eu reproduzo machismo? Como eu reajo quando sou contrariado? Que tipo de piada eu conto, que tipos de abusos eu relativizo?
Transformar a violência em busca de equilíbrio passa por alguns caminhos concretos para os homens: buscar terapia, participar de grupos de homens comprometidos com novas masculinidades, aprender a lidar com frustração sem agressividade, ouvir mulheres sem se colocar na defensiva, intervir quando um amigo humilha ou ameaça a parceira, educar meninos para o respeito e não para a posse.
Enfrentar a violência contra as mulheres é, sim, proteger a vida delas – mas também é libertar os homens de um modelo de virilidade que só produz solidão, medo e morte. O objetivo não é inverter hierarquias, e sim construir relações em que ninguém mande em ninguém: onde homens e mulheres possam existir com dignidade, autonomia e respeito.
Enquanto cada homem não assumir sua responsabilidade – na casa, no trabalho, na roda de amigos – nenhuma lei, delegacia ou campanha será suficiente. O fim da violência contra as mulheres passa, necessariamente, por homens dispostos a desaprender o machismo e a reconstruir, dia após dia, uma forma mais humana de ser homem.

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