MEIO AMBIENTE

No impresso: Alésio dos Passos: a grande crise mundial será climática

  • Foto: Farmácia da Natureza/Divulgação -

Figura folclórica de Florianópolis falou com exclusividade ao Correio Francisquense sobre o meio ambiente, as preocupações que devemos ter com ele e quais as mensagens devemos dar para as futuras gerações Dono de uma vistosa e longa barba branca, Alésio dos Passos Santos é, em muitos momentos, confundido com o bruxo. De certa forma, quem o vê assim não está de todo errado. Segundo o dicionário Michaelis, um bruxo é alguém de extrema competência no seu ofício. Certamente é o caso de Alésio que mora na Lagoa da Conceição, berço de lendas já muito difundidas sobre bruxas e

Além de bruxo é professor na vida, ensinando há 40 anos sobre plantas e ervas bioativas. É ambientalista, colecionador e cultivador de plantas medicinais. Formado em Ciências Sociais, tem especialização em Educação Ambiental, com foco em pesquisas etno-botânicas e fitoterápicas.

Neste tempo tem ajudado a montar farmácias vivas em hospitais, escolas, postos de saúde e parques de 240 municípios catarinenses e atualmente coordenado o projeto Farmácia da Natureza.

Sua ligação com a ''Casa Comum'' - como costuma chamar o planeta - é íntima e essa intimidade permite que ele fale da Terra com muita propriedade.

O Correio Francisquense conversou com exclusividade com o bruxo das plantas para tratar da Semana do Meio Ambiente, confira. Ele diz responder com ''o coração que é onde reside a razão''.

Correio: Pode-se dizer que existe hoje, entre nós, bem maior conscientização no modo de respeitar a natureza? A que se deve a atenção maior dada à ecologia?

Alésio: Viemos de um regime de falta de liberdade nos anos 64 a 70, e logo ali, não existe ambiente preservado sem democracia, falar praticar a defesa da ecologia para nós começou depois da Eco-92, que participei, e nesse mesmo ano começou a educação ambiental, que fiz especialização na época, antes disso não se falava em preservação ambiental, mas o real é, a velocidade de destruição é muito mais acelerada do que a preservação, as causas são muitas da destruição, a maior delas é o modelo econômico, a produção de lixo. A casa comum vai ser num futuro próximo uma grande lixeira. Para mim esse conceito de desenvolvimento sustentável não existe, existe desenvolvimento mas não sustentável. Quando falamos em degradação ambiental, a degradação das culturas está em um ritmo muito mais acelerado. Cultura e meio ambiente tem que estar de mãos dadas.

Como as pessoas podem aderir ao cuidado com a natureza? Seria possível fazer uma escala de valores de atitudes a serem tomadas habitualmente?

Alésio. Vimos que a disciplina e atividades ligada ao meio ambiente, educação ambiental nos colégios está muito presente no dia a dia, mas nas família não tem essa prática por fatores culturais. As crianças estão educando os pais, tínhamos que ter atividade com a participação de toda a família, conversa sobre o comportamento das idas aos mercados, ir com as crianças as feiras orgânicas, falando dos alimentos sem veneno, conversar sobre a contaminação das águas, que bebemos, tomamos nosso banhos, os rios da cidade poluída, capinas com herbicidas, reaproveitamento da água da chuva, poupar energia elétrica e falar sobre a energia solar e energia do vento, cultivar temperos aromáticos, verduras, plantas medicinais em pequenos espaços, ou nas hortas urbanas, falar das abelhas, são muito outros assuntos, não só dos alunos, temos que educar toda a família. Os valores de preservação são atitudes simples, desde de escovar os dentes, apagar as luzes, demorar pouco tempo no chuveiro, pensar e se envolver no bairro para humanizar os espaços públicos, com muitas atitudes comunitárias, mas temos que escolher governantes preocupados com as causas ambientais e culturais, e pensar globalmente, pois todos nós moramos na mesma casa, o que acontece em outros lugares tem influência aqui, a crise climática, aquecimento global está acontecendo em todos os lugares do planeta, nos afeta.

Na sua opinião, o mundo está mais consciente das necessidades de preservação do meio ambiente e dos recursos naturais para que gerações futuras possam deles usufruir?

O mundo por causa do modelo de desenvolvimento para gerar riqueza é o que vem em primeiro lugar, as causa ambientais estão fortes em poucos países, principalmente os Países baixos estão muito preocupado com o aquecimento global, o aumento do nível dos oceanos. Países da Ásia e da América do Norte, na verdade os países mais ricos, estão explorando e destruindo os ambientes naturais para produzir riquezas, quase excluvamente para o desenvolvimento dos países ricos, explorando e destruindo o ambiente natural dos países pobres, as grandes empresas estrangeiras querem e exportar as nossas riquezas e bem pouco fica aqui, além do controle cambial que é outra forma de exploração.

A questão climática está relacionada com a sustentabilidade? Como?

A grande crise mundial será climática. Nós no Brasil desmontamos todo aparato de fiscalização, estamos queimando, desedificando tos os nossos eco-sistemas, amazônico, cerrado, mata Atlântica, Oceanos e ambientes urbanos pelo modelo de urbanismo predador, e boa parte da culpa é governamental, dos executivos municipais, estaduais e federal, eles não tem preocupação marcante com recuperação e preservação ambiental.

Como a questão ambiental afeta, por exemplo, a escassez de alimentos? Quais formas de mudar o panorama atual?

Sobre a produção de alimentos e preservação ambiental, não é o agro-negócio que vai casar preservação ambiental com produção de alimentos. A grande contribuição na preservação ambiental vem da agroecologia, que não contamina crianças com alimentos envenenados, para mim esse é um crime da humanidade. Bebidas são proibidas em outros países liberadas aqui. Aí temos a agro-florestas que planta chuva, agricultura bio-dinâmica, as hortas urbanas, a agricultura familiar, não podemos esquecer do movimento das mulheres camponesas em defesa das sementes crioulas, esses movimentos em defesa da vida planetária são a solução para produzir alimentos de verdade e preservar, solo, água, animais e o ar que respiramos.

Quando se fala na questão da preservação, os rios e nascentes merecem destaque? Qual a importância deles para a preservação da vida e dos ecossistemas?

Tenho o privilégio de dizer que fui batizado com água potável, tomei até adulto água potável, quando vi a primeira água engarrafada perguntei para mim, se iria comprar água. Tem nas bicas, nascente e rios e achei estranho vender água. Hoje a minha água que corre na torneira tenho que pagar, e compro água dita potável em pote plástico para tomar. Com os rios de minha cidade poluídos, é de chorar.

Se pudesse deixar uma mensagem para as gerações, qual seria?

A mensagem que deixo para os leitores é temos responsabilidade individual para melhorar a casa comum. Cobre as responsabilidades dos governantes. Jovens e mulheres entrem na política, essa velhacada está destruindo o planeta. O passado cultural e ambiental está sendo perdido, o presente poluído e o futuro depende de nós. Minha gratidão pela oportunidade de desabafar e vamos sair do conforto das redes sociais do sofá e ir para o enfrentamento.


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